...quarta dimensão que escala pessoas
enchem-se os dias de gente, gestos de gente, palavras de gente, calores de gente, mundos de gente que se gosta muito muito ou muito pouco
mas gente que mergulha bem fundo, nos toca na alma, e que num momento nos faz gente somente daquilo que somos... dessa gente não há muito por aí
Ela conhecia tão bem as ruas da sua cidade, mas todos os dias percorria aquele caminho, talvez porque da avenida larga que seguia, gostava de espreitar por um tal beco estreito e sem saída. Havia dias que ganhava coragem e dobrava aquela esquina.
Lá ao fundo aparecia sempre aquela parede de tijolo vermelho. Às vezes parecia-lhe enorme, outras em bicos de pés quase poderia ter espreitado, invariavelmente, fitava-a imóvel. Sabia o que existia por trás, já lá tinha estado, mas já não se lembrava com clareza de todos os cheiros, de todas as cores.
Havia ocasiões que encontrava uma raposa em cima do muro, o bicho olhava para ela com olhos incompreensíveis: Que fazia aquele ser inteligente ali, mais uma vez?
E ela pensava: De que lhe valia uma raposa? Uma raposa não lhe poderia estender a mão para trepar, ou descrever-lhe o que se passava naquele outro cenário que não via.
Um dia encontrou um menino trocista, sentado com uma perna de cada lado de dois espaços que não se tocavam, como cavalgando algo que ela não dominava, parecia-lhe tão confiante assim, a contemplar um mundo, que instintivamente soube que ambos sonhavam não ser duro e frio e opaco . Sumidamente, na voz mais doce que tinha, no tom mais forte que conseguia, pediu-lhe: - Psst, que fazes aí? Ajuda-me a subir.
Ele olhou-a incrédulo, já a vira surgir vezes sem conta, mas não tinha a certeza de ela ser capaz de o ver ou ouvir, talvez por sentir demais, como ele. E estendeu-lhe os braços, mas nem os maiores braços do mundo a conseguiriam alcançar de tão alta que aquela parede escura se fizera.
Cansados ficaram um momento a observarem-se, e pela primeira vez, em muito tempo, viram o mesmo, reflectidos, numa ilusão que duraria o tempo que quisessem.
Por fim, ele triste e zangado,cobrou-lhe: - Já estou aqui há tanto tempo, porque não saltaste enquanto o muro era muito menor que nós?
- Não sei, se calhar estava a olhar para trás - respondeu-lhe, sem pensar. E ele calou-se, sabia o que era ter os olhos turvos de incertezas.
- Salta tu para esse lado! - disse-lhe em desespero, irritada, e na esperança que ele murmurasse suavemente: Sem ti não faz sentido...
Talvez as pessoas sejam como as músicas,
umas saem-nos dos ouvidos...
E outras não cansamos de ouvir em repeat
excerto de uma que descobri há pouco tempo, escondida, como convém a tudo o que é bom:
"...
Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente
..."
(índios, the gift, original legião urbana)
Talvez aqui se continue a escrever a banda sonora desta vida,
a tocar neste botão em pause, em repeat, até que a exaustão me vença!!
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