Segunda-feira, 21 de Outubro de 2019
Vives em mim da mesma forma que a imagem da tempestade lá fora. Esse reboliço de Deus, raro e belo, mágico e cruel. Impossível de domar. E não podendo à chuva contigo dançar, de água minha construí teto para me abrigar.
Domingo, 11 de Fevereiro de 2018
Por cada estrela que morre um desejo, por cada desejo uma esperança, por cada esperança um sonho que se constrói, por cada sonho que se constrói uma vida que se faz, por cada vida que se faz uma esperança que morre, por cada esperança que morre um sonho que não se vive, por cada sonho que não se vive um desejo que nos esvazia, por cada vazio uma estrela.
Conhecia tão bem aquela praia, o toque dos grãos de areia gordos e soltos, o cheiro a mar iodado e ventoso, o sabor agridoce das suas memórias. Coubesse a realidade num balde de praia para dela podermos fazer castelos de sonho. Pudesses ser tu um príncipe só porque os meus olhos te quiseram fazer assim. Como se diz adeus ao amor? Bem sei que há mais praias, mais areia e mais mar, mas aquela era a minha.
Segunda-feira, 10 de Julho de 2017
E por Vezes
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos só o sarro das noites não dos meses lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes, ah por vezes num segundo se evaporam tantos anos
David Mourão-Ferreira
Segunda-feira, 13 de Março de 2017
Existe um tempo certo para tudo. E o tudo precisa do tempo certo.
Li algures, não me lembro onde, não posso dar os créditos.
Domingo, 24 de Abril de 2016
Geografias:
Os canaviais do rio Lisandro, as tendas de índio que fazíamos na foz, as ondas qual adamastor a engolir o rio, e as casas mágicas, minúsculas, enormes, da única rua, em que nós éramos reis.
Todos os caminhos de pó entre alto dos moinhos e vila baleia, a tocar no rio e na igreja da senhora do ó, as searas de trigo, os pinheiros, os eucaliptos, as vinhas e as amoreiras, o campo aberto, e a mata cerrada, os poços e as cobras, as mós e os moleiros, que serviam de enredo às nossas aventuras.
O embalar de azuis do princípio do Alentejo: Tróia, santo André, Sines e São Torpes, a minha rua, a rua do parque e o parque no fim da rua, eu a saltar o muro para casa dos vizinhos, os legos da Lili, o feijão no nariz da Marta, o botão da televisão no dedo do André, a Madalena a ver em repeat o "música no coração", o Pedro a andar de bicicleta e eu a partir o queixo, a descida da casa dele até à praia, as pedras polidas e negras da praia de água quente, o começo dos sonhos de criança em sótão que não era meu, em casa feita de lençol emprestado.
A quintinha dos meus avós, o passeio de flores, o baloiço de corda, as videiras a fazer sombra, eu ora a subir à figueira, ora a comer os morangos do chão, o leite creme, o bolo de laranja, a gemada, a sopa de feijão tudo temperado com as histórias da minha avó. A minha avó. Os pintos, os patos, os coelhos, as cabras, os ouriços e os gatos, companheiros de brincadeiras imaginadas, a fugir do mundo real, sempre.
Os azulejos e a tábua corrida do Liceu Camões, o coreto da praça José Fontana, os pasteis de nata do pai Viegas, eu a apaixonar-me pelos lusíadas, a apaixonar-me pela primeira vez, todos os caminhos que vão dar ao Saldanha, a cidade vista de dentro, tudo o que a geografia esconde.
Domingo, 20 de Março de 2016
Ter um pedaço de teto em Lisboa é fácil, difícil é ter um pedaço de céu. Na minha cidade existem paraísos de dono único escondidos por fachadas de pedra. Das vezes que esperei à porta de ti, na esperança que o destino fizesse o resto do caminho, perdi-me sempre na analogia.
Agora que o tempo passou espero que saibas que somos balança velha, num prato o desejo no outro o peso, quanto maior o desejo, maior o peso. Tudo tem um preço sabias? Porque o desejo não morre enquanto não o adormeces nos braços. Já a paixão morre sempre e o amor quando é amor também não porque vive na alma, mas isso é outra conversa, não chegou a ser esta.
Lembro-me perfeitamente daquilo que não vivi, olhos postos no céu escuro e baço de Lisboa, nesse paraíso teu que nem num momento foi meu, a dizer-te que a próxima pessoa que dissesse que me amava teria que me mostrar as estrelas da minha cidade. É que eu nasci na encosta do castelo na hora que a noite é mais noite, esperar tanto tempo pelo sempre, sabendo que nunca é certo é só o prefácio.
Sábado, 19 de Março de 2016

Chegará o dia em que já não encaixarás o teu cabelo dourado na curva do meu braço enquanto molengamente tentas enganar-me e ao sono para mais uma histórinha.
Chegará o dia em que as tuas mãos papudas já não me puxarão para o tamanho do teu mundo, coladas ao chão, onde me ensinas de novo a brincar.
Chegará o dia em que o pai natal, a fada dos dentes e o coelho da Páscoa já não viverão no teu coração.
Chegará o dia em que já não caberás no meu colo, apesar de para mim teres sido sempre muito maior que ele.
Chegará o dia em que o calor dos meus lençóis já não será suficiente para te matar os medos.
Chegará o dia em que a tua gargalhada solta se perderá nos centímetros que fores acumulando em ti.
Chegará o dia em que te zangarás comigo, pois nunca te zangaste, apesar de tantas e tantas vezes já me ter zangado contigo, e nesse dia descobrirás que o teu amor foi sempre mais generosos que o meu.
Chegará o dia em que os teus sonhos se tornarão projectos e nesse dia os teus braços perderão as asas para voar, mas os teus pés ganharão o chão para caminhar.
Chegará o dia que essa vontade de ser feliz já, agora, se perderá na repetição dos dias, nos antes e nos depois.
Não me custa os anos que passam, quase nunca, não enquanto me encheres os dias de ti, custa-me perder-te, perderes-te em cada dia, perder-me em ti - criança poema.
Sexta-feira, 29 de Janeiro de 2016
Se o mundo acabasse hoje? Não o mundo todo, o nosso mundo, o mundo em que tu existes para mim, o mundo em que eu existo para ti?
No certo que do somar dos hojes não se fizesse vida, o mundo seria nosso por um dia.
Domingo, 24 de Janeiro de 2016

"E sonho-te.
Quando sonhava ser um sonho teu."
Domingo, 17 de Janeiro de 2016
"Me deixei adormecer. O que sonhei até doeu. Tanto que acordei com o peito sufocado. Pedaços do sonho se misturavam com lembranças. Tudo aos bocados, misturado. Não explodira eu, rebentara meu sonho."
Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2015
Encontrámo-nos num desses cafés novos que enchiam agora as ruas do teu bairro, onde o azulejo e o mosaico frios de antes tinham sido substituídos por peles mais quentes, seria se em nós houvesse uma proximidade que nunca existiu. Sem o eco de outras conversas, do encostar apressado de copos e pratos, ficámos só os dois com as nossas palavras, e com o silêncio que cabia entre elas.
Contei-te a minha estória, cabia em dez linhas aquilo que te queria contar, fora sempre assim, que respostas podia dar a perguntas inixestentes, nisso éramos iguais. Dez frases hoje, diferentes se tivessem saído de mim há um, dez anos, eu mudava, a forma como eu vivera a estória mudava comigo. A vida acontecera, com outras emoções, com outros sonhos, sem ti.
Pedis-te mais um café. Eu a medir-me por dentro e tu no segundo café, sempre me desarmara essa tua aparente confiança, teria sido inteligente fazeres-te hoje, como antes, à minha altura. Enquanto desviavas a atenção de mim, tentei guardar cada pormenor do teu rosto, generoso, fundo, inconsequente, hoje ainda como na primeira vez que te vi. Lembrei-me daquilo que tinha permanecido no tempo. Tu para mim eras um sonho perdido, um amor que não nasceu. Eu para ti seria a soma daquilo que não acontecera. E nisso éramos diferentes.
Os teus olhos voltaram para mim e demoraste-os no retorno dos meus. Depois encheste o tempo com as tuas banalidades, com o enfado de quem procura magia em folha branca. Fosse aquela mesa quadrada, para te obrigar a escolher entre sentares-te ao meu lado ou no oposto de mim, mas diria que escolheste de propósito aquele café, feito de vidas redondas, como tu. Não sei se o teu pragmatismo te permitiu perceber que não foi a falta de geometria que me fez fugir, parti porque transbordavas em mim. Não havia nada a perdoar, quando nada era devido.
Já cá fora, no passeio que divide o lado quente de dentro e o caos da cidade que gela a superfície daquilo que somos, despedi-me de ti, esse limbo apertado colou-nos mais do que a vida, e assim à distância de não caber mais ninguém entre nós, ocorreu-me dizer-te o quanto tinha gostado de ti, mas não sabia em que tempo te devia conjugar. Num beijo deste-me o nosso momento pendurado no tempo e partiste. A vida é feita de palavras mudas, mas ambos sabíamos que tentar o inverso também não é fórmula que resulte em caminho. Talvez fôssemos obtusos para o amor.
Terça-feira, 8 de Dezembro de 2015
Continuas aqui, sob a pele daquilo que sou, daquilo que me vou acontecendo. Ilusão é aquilo que somos à superfície. Houve certamente dias em que não te vi, talvez com sorte tenha havido semanas inteiras em que não apareceste. Houve dias, semanas, meses, em que viveste comigo todas as horas, que me roubaste todos os minutos. Que te procurei, que te encontrei, que te perdi, outra e outra vez. Nunca saberás o quanto me tocaste... do quanto a minha vida te pertence.
Quinta-feira, 3 de Dezembro de 2015
Estes são a A. e o D., são amigos desde quase sempre, e sempre é muito tempo para quem tem 6 anos. Quando a A. vive em Portugal são também vizinhos, nesses dias, passam-nos a queimar as horas, com os pés descalços a voar no chão do quintal, com a alma irrequieta de quem é feliz. Entram na casa um do outro como se fosse sua, porque melhor que nós, crescidos, sabem que a amizade não tem fronteiras. Nunca os vi zangados, não sei se pela paciência infinita do D. se pela gargalhada solta da A., talvez achem que o tempo que têm pela frente é muito curto para zangas. Quando a A. tinha três anos perguntava ao D. com os olhos doces: "quando fores crescido, casas comigo?" E o D. derretia e dizia que sim. Depois cresceram um bocadinho, muito, e a A. já só pergunta: "Sou a tua melhor amiga?" E ele timidamente confirma. Na verdade não sabe dizer não à A. Quando se reencontram, encostam-se assim, como que a esmagar o tempo, que em seus corações não passou, e retomam a conversa, com a leveza que só conhece quem como eles tem um amigo assim.
Quinta-feira, 4 de Julho de 2013
Ando por aqui convencida que morreste. Qual fantasma que só aparece no escuro, de mim. Coloquei-te numa caixa, no fundo de uma gaveta, de um armário, de um quarto, de uma casa, numa cidade, a um milhão de km de mim. Mas não morreste, e a verdade será sempre essa.
Quinta-feira, 6 de Novembro de 2008
Havia o tipo do sorriso cor de café que tinha um fraquinho por todas as míudas que ali entravam, e o outro que perguntava sempre: - Então hoje não se ri. E ela ria. - Ah, assim tá melhor! E ainda o outro que tinha menos dez centrimetros que todos, e que nos olhava com ar de quem tinha a culpa. E havia mais, uns que já nem lá estavam, como o magrinho feioso, estranhamente sensual.
Eram cinco minutos, tantos dias, e podiam-se contar histórias intermináveis de momentos insignificantes, o importante não interessava nada falar.
E hoje vinha-lhe à memória a musíca:
"agora pára de fazer sentido
não vês que assim estás a pisar fora da estrada
vê se agora páras de fazer sentido
não vês que nada nos dirá mais do que nos diz nada
se eu largar eu vou sentir a tua falta"
Sexta-feira, 8 de Agosto de 2008
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis
Ao heterónimo e ao homónimo
Sexta-feira, 6 de Junho de 2008
"...
The music's too loud
and the noise from the crowd
increases the chance of misinterpretation.
So let your hips do the talking.
I'll make you laugh by acting like the guy who sings,
and you'll make me smile by really Getting into the swing.
..."
kings of convenience
Quinta-feira, 13 de Março de 2008
3 em 12 continuam solteiros, 3 em 12 estão divorciados, 3 em 12 têm relações estáveis mas ainda não pensam em ter filhos, 3 em 12 têm relações estáveis e têm filhos
depois da PGA a grande luta da geração rasca foi o tal direito à felicidade, no lado oposto falta-nos o mérito das gerações anteriores, a preservação do amor
Quarta-feira, 12 de Março de 2008
"...
It takes fightin’ day and night
to make such a good thing die
..."
(arcade fire)
Terça-feira, 12 de Fevereiro de 2008
não sei se é um ciclo vicioso ou um dado viciado
mas continuo a vir aqui
suponho que seja a derrota de mim sobre mim
mas já sem a ilusão de que este caminho eu sei jogar
Sexta-feira, 11 de Janeiro de 2008
"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."
Fernando Pessoa
o lugar comum, a empatia e a inutilidade do tempo para tudo aquilo que tem de permanecer
Quarta-feira, 24 de Outubro de 2007
And sometimes it happens that you are friends and then
You are not friends,
And friendship has passed.
And whole days are lost and among them
A fountain empties itself.
And sometimes it happens that you are loved and then
You are not loved,
And love is past.
And whole days are lost and among them
A fountain empties itself into the grass.
And sometimes you want to speak to her and then
You do not want to speak,
Then the opportunity has passed.
Your dreams flare up, they suddenly vanish.
And also it happens that there is nowhere to go and then
There is somewhere to go,
Then you have bypassed.
And the years flare up and are gone,
Quicker than a minute.
So you have nothing.
You wonder if these things matter and then
As soon you begin to wonder if these things matter
They cease to matter,
And caring is past.
And a fountain empties itself into the grass.
Brian Patten

Miró
passa-se mais tempo a tentar perceber do que a tentar gostar
um dia descobre-se que a primeira é instintiva e a segunda é racional
Sexta-feira, 14 de Setembro de 2007
Soa a camião desgovernado na segunda circular, mesmo antes de chegar ao nó do campo grande, às seis da tarde… com a agravante de sermos espectadores da nossa desgraça em câmara lenta e em silêncio
Quarta-feira, 29 de Agosto de 2007
a vida perfeita, a casa perfeita, o homem perfeito, o telemóvel perfeito, o carro perfeito, o filho perfeito, a televisão perfeita...
o que lhe faltava? ...um orgasmo
engraçado isto das aparências,
na verdade salta à vista as frustrações, esta ou outras, esconde-se sempre na excessiva vontade de mostrar
Sim, ocasionalmente...
e ocasionalmente não...
nas outras ocasiões vivo a vida que me calhou...
Segunda-feira, 2 de Julho de 2007
de repente lisboa tornou-se uma aldeia pequena
e indiscretamente tornámo-nos voyeurs de um mundo que não é real,
mas como em qualquer coscuvilhice sussurrada entre dentes, a verdade há-de ser sempre só meia
espremendo tudo,o que importa salientar é que a intenção nunca foi magoar ninguém, mas alguem vai ter que me desculpar, muito menos foi me magoar, com certeza vou ter que me desculpar também
entre uma coisa e outra cansei-me um bocado disto
como para sempre e para nunca são palavras difíceis neste dicionário, não vou dizer adeus, vou só virar as costas e continuar a andar

...procura-se insistentemente!
às vezes encontra-se, às vezes não
mas dizer que a vida é uma puta é bem melhor remédio que deixar que a vida nos faça umas putas
Domingo, 24 de Junho de 2007
promessas feitas em silêncio e de olhos fechados:
prometo não fugir de ti, se prometeres não fugir de mim
Quinta-feira, 14 de Junho de 2007
5h da manhã... outra vez...
hoje acordei com a tua voz a tocar em mim,
com os teus olhos a tocarem em mim,
com os teus braços a tocarem em mim...
pelo menos em sonhos pode-se ter a presunção de acreditar naquilo que nos dá jeito ao coração.
Quarta-feira, 23 de Maio de 2007
Estranhos sentimentos que nos habitam nos cantos escuros do coração,
como objecto de potencial valor esquecido numa casa que se pensa vazia,
encostaram-se por lá entre a insistência e a desistência.
Hão-de lá ficar até que o tempo os leve?
Fazer que sim é viver num mundo menos irreal que este...
Porquê?
Porque talvez já se tenha aprendido que os sonhos nos consomem a pele e a alma,
e se tenha aceite que não há empatias perfeitas, só gente torta que tropeça em nós...
Tretas??
Mais umas quantas...
Segunda-feira, 21 de Maio de 2007
"Era uma vez um homem que vivia segundo o princípio do máximo lucro. Tinha descoberto há muito tempo que quase não precisava de dormir, que podia comer as suas refeições à frente do computador e que a maioria do contacto social era inútil. O seu casamento tinha acabado há muito tempo e não via os seus pais há dois anos.
Era uma vez um homem que vivia segundo o princípio do máximo prazer. Tinha descoberto há muito tempo que não fazia sentido perseguir o sucesso, que o tempo e esforço investidos não coincidiam com os resultados e que as pessoas que conhecia na rua eram todos os amigos de que precisava. A sua mulher tinha-o deixado e quase nunca falava com os seus pais.
Um dia, o homem 1 esbarrou com o homem 2 enquanto corria pela praça. Por um breve instante, os seus olhares cruzaram-se e sentiu-se no ar uma pontinha inveja mútua. Do outro lado da praça, sem que nenhum dos dois tenha reparado, um casal acabava de almoçar num restaurante. Beijaram-se felizes e ambos voltaram ao trabalho."
Tirado do Le Cool
Para dizer que me despedi de um qualquer lucro que há muito não me dá prazer, se me quiserem encontar estou na rua augusta a vender quinquilharias ou numa rua do chiado a roubar beijos a quem me faz feliz...
Terça-feira, 15 de Maio de 2007
inútil: inverso de útil
útil: que serve para alguma coisa
palavras que já não nos servem em nada, pessoas que já não nos servem para nada: inúteis
a acreditar nisto, melhor cortar as duas pernas e mesmo assim continuar a andar
Terça-feira, 8 de Maio de 2007
Segunda-feira, 30 de Abril de 2007
...quarta dimensão que escala pessoas
enchem-se os dias de gente, gestos de gente, palavras de gente, calores de gente, mundos de gente que se gosta muito muito ou muito pouco
mas gente que mergulha bem fundo, nos toca na alma, e que num momento nos faz gente somente daquilo que somos... dessa gente não há muito por aí
Sábado, 7 de Abril de 2007
Ela conhecia tão bem as ruas da sua cidade, mas todos os dias percorria aquele caminho, talvez porque da avenida larga que seguia, gostava de espreitar por um tal beco estreito e sem saída. Havia dias que ganhava coragem e dobrava aquela esquina.
Lá ao fundo aparecia sempre aquela parede de tijolo vermelho. Às vezes parecia-lhe enorme, outras em bicos de pés quase poderia ter espreitado, invariavelmente, fitava-a imóvel. Sabia o que existia por trás, já lá tinha estado, mas já não se lembrava com clareza de todos os cheiros, de todas as cores.
Havia ocasiões que encontrava uma raposa em cima do muro, o bicho olhava para ela com olhos incompreensíveis: Que fazia aquele ser inteligente ali, mais uma vez?
E ela pensava: De que lhe valia uma raposa? Uma raposa não lhe poderia estender a mão para trepar, ou descrever-lhe o que se passava naquele outro cenário que não via.
Um dia encontrou um menino trocista, sentado com uma perna de cada lado de dois espaços que não se tocavam, como cavalgando algo que ela não dominava, parecia-lhe tão confiante assim, a contemplar um mundo, que instintivamente soube que ambos sonhavam não ser duro e frio e opaco . Sumidamente, na voz mais doce que tinha, no tom mais forte que conseguia, pediu-lhe: - Psst, que fazes aí? Ajuda-me a subir.
Ele olhou-a incrédulo, já a vira surgir vezes sem conta, mas não tinha a certeza de ela ser capaz de o ver ou ouvir, talvez por sentir demais, como ele. E estendeu-lhe os braços, mas nem os maiores braços do mundo a conseguiriam alcançar de tão alta que aquela parede escura se fizera.
Cansados ficaram um momento a observarem-se, e pela primeira vez, em muito tempo, viram o mesmo, reflectidos, numa ilusão que duraria o tempo que quisessem.
Por fim, ele triste e zangado,cobrou-lhe: - Já estou aqui há tanto tempo, porque não saltaste enquanto o muro era muito menor que nós?
- Não sei, se calhar estava a olhar para trás - respondeu-lhe, sem pensar. E ele calou-se, sabia o que era ter os olhos turvos de incertezas.
- Salta tu para esse lado! - disse-lhe em desespero, irritada, e na esperança que ele murmurasse suavemente: Sem ti não faz sentido...
Quinta-feira, 5 de Abril de 2007
Talvez as pessoas sejam como as músicas,
umas saem-nos dos ouvidos...
E outras não cansamos de ouvir em repeat
excerto de uma que descobri há pouco tempo, escondida, como convém a tudo o que é bom:
"...
Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente
..."
(índios, the gift, original legião urbana)
Talvez aqui se continue a escrever a banda sonora desta vida,
a tocar neste botão em pause, em repeat, até que a exaustão me vença!!
Domingo, 25 de Março de 2007
Roubei do blogue de um amigo de uma amiga... não resisti, porque de tantas coisas que nos tocam, há umas que nos tocam mais...
"Ilusión
Había una vez un campesino gordo y feo
que se havía enamorado (?cómo no?)
de una princesa hermosa y rubia...
Un día, la princesa - vaya usted a saber por qué -
dío un beso al feo y gordo campesino...
y, mágicamente, éste se transformó
en un esbelto y apuesto príncipe.
(Por lo menos, así lo veía ella...)
(Por lo menos, así se sentía él...)"
Sábado, 17 de Março de 2007
Tempo: ciclicamente constante, olhar malicioso, ar trocista. Porque não envelheces?
Não sei se me ria também ou se espere por ti com desdém!
Às vezes tenho ideias felizes,
Ideias subitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...
(Álvaro de Campos)
encontrou-se escrito num livro de solidão,
sentou-se ao lado de um estranho qualquer,
sonhou que o estranho lhe dava a mão,
alimentou-se de beijos há muito esquecidos,
marcou-se com ferro, apagou-se com pó
...perdeu-se num destino que não era o seu.
Sexta-feira, 2 de Março de 2007
Hoje gostava de nascer árvore com os pés cravados no chão, com a certeza que é aqui que me vou encontrar, sempre. Ou ser pássaro e não pousar no chão, ver de cima sem nunca me aproximar.
Hoje gostava de ser inteligente para perceber o resto, resto de contas que fazemos de cabeça e que nunca dão número certo. Ou burra, felizmente burra, para não me tentar perceber, a mim.
Hoje gostava de virar as costas a um nevoeiro cerrado que já não importa entender, morreu, como partes de mim, lá atrás. Ou olhar de frente, para ti, e escutar, e sentir e gritar... Foda-se, és tu aí? Sou eu aqui?
A propósito do dia dos namorados, no outro dia vinha numa credível revista, uma reportagem que dizia mais ou menos assim:
Não nos apaixonamos à primeira vista;
A paixão desaparece ao fim de 1 a 3 anos;
O amor só acontece ao fim de um ano de relacionamento.
Isto tudo, cientificamente falando!
Pergunto-me: Porque não dizerem ao fim de quanto tempo o amor acaba?
É que iam ajudar bastante uma nova geração ingénua e inexperiente. Cientificamente falando, claro!
Quarta-feira, 28 de Fevereiro de 2007
Há adjectivos que se colam a nós, e há pessoas que os usam como se fossemos seres objectivos dentro de um dicionário.
Mas as pessoas não são palavras, aquilo que dizemos é tão variável no tempo que não nos pode construir.
E depois vêm os nossos actos, quase sempre contrários a frases que cuspimos para não nos chegarem ao coração. E esses? São reflexos de nós?
Não sei... felizmente há pessoas com olhos na alma.
Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2007
Pó cinzento e parte de ti voou com o vento,
talvez tenha sido a força da tua mão que agarrava a vida,
e deixei-te ficar assim a segurar a minha,
e porque a tua coragem já não faz ninguém feliz,
desviei-me... o teu calor já não está lá para o sentirmos,
mas espanto-me com a coragem dos homens que amo,
e sinto falta de os ouvir sorrir.
Sexta-feira, 9 de Fevereiro de 2007
When I was young, it seemed that life was so wonderful,
a miracle, oh it was beautiful, magical.
And all the birds in the trees, well they'd be singing so happily,
joyfully, playfully watching me.
But then they send me away to teach me how to be sensible,
logical, responsible, practical.
And they showed me a world where I could be so dependable,
clinical, intellectual, cynical.
There are times when all the world's asleep,
the questions run too deep
for such a simple man.
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
but please tell me who I am.
Now watch what you say or they'll be calling you a radical,
liberal, fanatical, criminal.
Won't you sign up your name, we'd like to feel you're
acceptable, respecable, presentable, a vegtable!
At night, when all the world's asleep,
the questions run so deep
for such a simple man.
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
but please tell me who I am.
(Supertramp – Logical Song)
Terça-feira, 30 de Janeiro de 2007
Gosto de ver-te passar
Anseio por ver-te passar
Mas eu não vou… não vou.
Adoro ver-te gozar
Quero ver-te gozar
Mas eu não estou… não estou.
Eu provavelmente morro com o fim da luta mas se te faz feliz eu paro e recomeço com um ódio de amor que não nos faça tanto mal…
Que não nos torne mais amargos e nos deixe sem dúvidas.
Eu provavelmente morro com o fim da luta, mas se te faz feliz..
Hoje não vamos falar
Recuso ouvir-me falar
mas eu não sou… não sou.
Forte pra te contestar
E tu queres ver-me gozar
mas eu não estou… não estou.
Balla
Segunda-feira, 11 de Dezembro de 2006
tolos aqueles que seguiram o caminho mais fácil, um dia vão ouvir os gritos do coração que calaram, e vazios descobrir que percorreram a vida de mão dada com alguém que não querem,
tristes aqueles que subiram a montanha sozinhos, um dia vão ouvir o silêncio de correr atrás do que estava à muito perdido, e vazios descobrir que estão lá em cima, acompanhados de ninguém que não os quer
experientes aqueles que souberam ficar parados, e sábios aqueles que pararam de pensar e decidiram com o coração, com os olhos e com as mãos,
felizes aqueles que se agarraram a outras mãos, mãos que se desejam, mãos que sobem juntas, mãos que assustam mas que persistem,
poucos os que alcançaram amar e souberam ser amados
Sexta-feira, 8 de Dezembro de 2006
... também conhecido por princípio
ou
"No passado está a história do futuro." -- Jean Donoso Cortés
Quarta-feira, 6 de Dezembro de 2006
"Despedir-me de ti, "Adeus, um dia, voltarei a ser feliz."
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
Talvez por não saber falar de cor, imaginei.
Triste é o virar de costas, o último adeus sabe Deus o que quero dizer.
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim...
Escutar quem sou e se ao menos tudo fosse igual a ti...
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender. É o amor que chega ao fim. Um final assim, assim é mais fácil de entender... "
(The gift)
Como se escreve ADEUS numa folha de papel?
Da mesma forma que se escreve PARA SEMPRE?
...mas sem o vestido branco, sem a valsa, sem o sorriso dos amigos, sem a pureza no teu rosto, sem a minha mão sobre a tua.
Mas como, de tão diferente?
...com lágrimas diferentes, com o mesmo abraço sentido.
...com a mesma vontade altruísta de que sejamos... felizes PARA SEMPRE... desta vez não nós, mas tu e eu.
E que num ADEUS, tantas vezes adiado... fique um ATÉ BREVE AMIGO.
Domingo, 3 de Dezembro de 2006
às vezes em ritmos para lá do silêncio das palavras, fechamos os olhos e apetece-nos roçar o corpo áspero da vida, suave de sonhos, em alguém que talvez se dispa, mas o tempo pára e suspeitamos que a magia foge, frases disléxicas cortam-nos ao meio... estranho. depois fazemos de conta que não importa, andamos por aí disfarçados como se a vida fosse um carnaval, os metros de palavras que enrolamos à volta de corpos sempre iguais tomam conta de nós, não somos o que vêem, espelhos distorcidos e almas banais
Quinta-feira, 30 de Novembro de 2006
as escadas cá de cima lá para baixo
cá em cima, longe demais, não se vê nada lá para baixo,
cá em baixo, perto demais, também não,
alguém ouviu o silêncio das músicas a entrarem dentro de mim?
ninguém ouviu o estrondo do pó a cair?
se calhar fui só eu que vi as nuvens gordas a sorrir, lá em cima... nevoeiro afinal, perto demais
não importa, eu senti!
Quarta-feira, 29 de Novembro de 2006
a tua pequena dor
quase nem sequer te dói
é só um ligeiro ardor
que não mata mas que mói
é uma dor pequenina
quase como se não fosse
é como uma tangerina
tem um sumo agridoce
de onde vem essa dor
se a causa não se vê
se não é por desamor
então é uma dor de quê?
não exponhas essa dor
é preciosa é só tua
não a mostres tem pudor
é o lado oculto da lua
não é vicío nem custume
deve ser inquietação
não há nada que a arrume
dentro do teu coração
talvez seja a dor do ser
só a sente quem a tem
ou será a dor de ver
a dor de ir mais além?
certo é ser a dor de quem
não se dá por satisfeito
não a mates guarda bem
guardada no fundo do peito.
Rui Veloso & Carlos Tê
Sexta-feira, 24 de Novembro de 2006
So what if your heroes changed their minds
And all you thought was right flew out the window
And all you based your life on wasn't real
So what if your hero sells its soul
And all your wildest dreams seem dull and dreary
And all your secret thoughts seem cheap and lonesome
What you going to do so all alone now
Singing to the birds
Singing to the birds
Singing to the birds
Singing
So what if your hero fades away
And all the things you thought were orange were gray now
Who is it who brings you some new colors
So what if your hero never was
What you going to do
So all alone there
Singing to the birds
Singing to the birds
Singing
It's partly sunny, it's partly rain, mostly curious
Or full of pain
You could learn to love yourself
Singing to the birds
And what if your hero never was
And all the time you wasted wasn't real
And all your wounds decided just to heal
And all your wildest dreams were full of color
And all your secret thoughts belonged to you
What you going to do so all alone here
Singing to the birds
Singing to the birds
Singing to the birds
Singing
It's partly sunny, partly rain, mostly curious or full of pain
You got to learn to count on someone
'Cause it's mostly pain
And it's kind of curious when it rains and
You could learn to love yourself
You could learn to love yourself
You could even learn to be yourself
Singing to the birds
(Lisa Germano)
lá atrás exitem mil eus e eles... nem eu os distingo
Quinta-feira, 23 de Novembro de 2006
antes de partir é preciso pedir que nos devolvam as caixas com aquilo que somos,
que não cabendo dentro de nós confiamos nas mãos daqueles que são nossos amigos,
e na incapacidade de pedir, permanecemos assim,
linhas exteriores, abraçadas, presas por pontos,
e no meio espaço em branco, escrito de tanto, riscado por nada.
na força herdada daqueles que são muito mais fortes que eu,
na revolta das injustiças que a vida traz àqueles que amo,
descubro que talvez a loucura delirante dormente, seja só uma forma de nos escondermos,
faz-de-conta quando a vida e o medo são maiores que nós
e de repente em tanto tempo, aqueles que um dia foram falsamente muito, passam a ser menos que nada, não por mágoa mas porque assim o quiseram,
e os outros, que tantas vezes passaram distraidamente, conquistam espaços há muito proibidos em mim, abraçam-me na vontade que fiquem,
e na tristeza de já não me sentir triste com a frieza disto tudo, na ironia que só eu conheço, nunca como antes sigo em frente, olho ao fundo, mudo mas permaneço eu,
porque finalmente acredito que o caminho que percorri serviu para chegar aqui... ao que tenho, muito mais que aqueles que comodamente morreram sem lutar
Terça-feira, 7 de Novembro de 2006
Com um pé em cima de algo escorregadio,
se num lugar mais fácil o atrito me fere o corpo,
na dúvida de pôr a mão segura naquilo que foge,
e os mesmos olhos se enchem de frio,
compreensão em desiquilíbrio,
permaneço assim e nem sei se quero.
Quarta-feira, 1 de Novembro de 2006
sossega-se o coração, há dias assim em que não nos decepcionamos com nada, não estamos tristes, não rimos, mas sorrimos. seremos tristes? ingénuos adormecidos? e abraçamo-nos com quem nos sossega o coração.
em memória de todos os meus poetas mortos:
"...e de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."
Miguel Sousa Tavares
objectivo tenta-se perceber percebermo-nos sempre gostei de saber o que os outros dizem mas nunca gostei muito que enfiassem o nariz dentro dos meus pulmões defeito logo igual a quase toda a gente inverte-se o conceito logo parvo de um blog como este que supostamente deveria ser privado e foi até de mim quando apagava aquilo que não queria ver mas deixou de ser talvez porque na verdade não tenho nada a mostrar e também não importa muito o que não pensem estado a que se chega quando na realidade não estando sempre bem com a vida estamos mesmo muito bem connosco subjectivo as palavras serão sempre minhas os pontos e as vírgulas serão sempre vossos... (reticências)
Sábado, 28 de Outubro de 2006
E disse-lhe ela na voz mais doce que tinha: " Vá lá, não penses tanto!"
E ele do outro lado do mundo, sorriu sem ela ver, e perguntou-se: "Pensar em quê?"
Não estava a pensar, dormia, com os olhos abertos mas vazios, olhava para dentro e sem saber se sentia, cansado do mundo, dormia.
Talvez como num adeus quando alguém muito triste lhe disse: "Deitavas-te aqui todas as noites, mas não dormias comigo". Desculpa, também eu já dormi, não durmo mais.
E ela seguiu o mesmo caminho que seguia sempre e depois um outro, um deles por obrigação, o outro longo e sozinho como ele. Mas ela continuou a sonhar: "Pensar para quê?"
E por cada noite que atravessava, por cada música que chorava, por cada tristeza que o devorava, ele gritava: "Sonhar para quê?"
Quinta-feira, 26 de Outubro de 2006
as amizades que fazemos por aí, coisas estranhas, fenómenos loucos em pessoas anormais,
a verdade é que ao fim de trinta anos ainda não tenho meio termo,
empatias ou apatias, para mim só há dois tipos de cores,
os arco-íris e os transparentes,
fascino-me por uns e os outros passam-me ao lado,
mas mesmo aqui ao lado, é que nem os vejo, com certeza também não me vêem a mim...
o princípio de mim...
um monte de almofadas do lado direito da cama, três oliveiras em frente à janela, um gato meloso em frente ao chuveiro, um pacote de leite doce muito frio, o meu mundo em quatro rodas, as mesmas músicas que me perseguem.
o primeiro bom dia a alguém que não conheço e que nunca perguntei o nome, o segundo bom dia com muito mau humor seguido por muitas tentativas de um bom dia em forma de cáustica ironia.
o resto de mim... nunca igual,
hoje... um verde azulado acastanhado seguido de um cinzento, preto, muito preto, e depois... um laranja rosado avermelhado e de volta ao preto, muito preto...
e sempre as mesmas perguntas...
quantas vezes mudamos no mesmo dia? quantos meses permanecemos iguais?
quantas vezes se consegue percorrer a mesma ponte, com os pés fora do chão, sempre com as mão abertas para perdoar, e com os olhos fechados para esquecer?
quantas vezes nos podemos apaixonar por pessoas diferentes, se nós já não somos os mesmos? quantas mais vezes, pessoas banais nos acharão especiais, quantas mais pessoas especiais nos acharão banais?
quantas mais mágoas doces, azedas saudades de tudo o que há-de vir?
e quantas vezes mais morreremos, antes de abrirmos os olhos?
Terça-feira, 24 de Outubro de 2006
Talvez volte para os meus lápis de cor e para as minhas folhas brancas, quantos megas cabem nesta coisa?
E quando ficar cheia/cheio vai para o lixo?
Momentos positivos, momentos negativos, hoje estou a meio vão de cabeça para baixo, nem isto faz sentido, amanhã talvez fuja para um apoio, mais seguro, fendilha em cima mas não caio, mas depois tem aquela merda do esforço de corte, ou será normal?
Ou talvez deva usar um coeficiente de segurança muito grande, muito maior que o regulamentar, para tudo o que é permanente e muito maior para o que não é, esquecer as combinações raras e calcular todos os deslocamentos para os estados limites últimos e esperar o vento, a neve, o calor e o frio.
Acção, reacção, há muito que não se anulam, mas então onde está o equilíbrio disto tudo? Nunca esteve, se já partirmos do principio que uma compressão diminui uma tensão numa situação composta, e que quanto maior é a inércia, mais podemos aumentar o momento mas menos conseguimos flectir, e que tudo é calculado automaticamente sem senso até à terceira casa decimal.
Hiperstática, hipostática, alguma vez isostática? Na verdade eu também não percebo nada, mas devia, já ando nisto à algum tempo, se calhar tornei-me um mecanismo. Fica o consolo de saber que se cair nem chegou a ser uma grande obra de arte, e esperar que desta vez não me caia em cima da cabeça.
Tudo isto para dizer que me tornei uma péssima profissional, da minha vida, recebo pouco, esforço-me pouco!
Segunda-feira, 23 de Outubro de 2006
aquilo que não consegui escrever...
seguraste o meu sorriso nos teus lábios
Sábado, 21 de Outubro de 2006
...as palavras que se dizem e que se escrevem,
bonitas frases feitas que no mundo real não sentem nada,
prosa banal que só tem sabedoria em bocas puras, em ouvidos inocentes,
OU ENTÃO, durante hora e meia, TENTAR VER TUDO AO CONTRÁRIO...
"The Shadow Dancer",
as asas partidas, a chuva e o vento,
e ficar lá, enquanto se pode...
...pretensiosamente simples!!
Quinta-feira, 19 de Outubro de 2006
sem dúvida...
se nos desatássemos a lamber uns aos outros, talvez chegássemos à conclusão que nem todos são o que parecem...
I like your taste!!!
Domingo, 15 de Outubro de 2006
"...A partir de então tudo o que sei é que me pus ao espelho da casa de banho a barbear-me com a passividade de quem está a barbear um ausente – e foi ali. Sim, foi ali. Tanto quanto é possível localizar-se uma fracção mais que secreta de vida, foi naquele lugar e naquele instante que eu, frente a frente com a minha imagem no espelho mas já desligado dela, me transferi para um Outro sem nome e sem memória e por consequência incapaz da menor relação passado-presente, de imagem-objecto, do eu com outro alguém ou do real com a visão que o abstracto contém. Ele..."
José Cardoso Pires, De Profundis, Valsa Lenta
Decisão minha ou não, à algum tempo que lá atrás tudo se tornou nevoeiro... não foi lesão no cérebro, deve ter sido noutro sítio qualquer,
vou à procura d'ela... já volto!!
Sexta-feira, 13 de Outubro de 2006
...e tirei o esqueleto do armário
Se tanta gente, partilha tanta coisa, com tantos outros tão pouco intimos,
e o fazem com tanto amor, com tanto ódio, com tanta dor, com tanta raiva...
aqui fica um escaganifobético de mim
(esta palavra não existe, quando a escrevem no word diz: adicionar ao dicionário ou ignorar tudo)
Segunda-feira, 9 de Outubro de 2006
Hoje estou zangada.
Porque estou cansada que o vazio me abrace, estatelado em muros que já não consigo subir.
Porque me prendo a esta gente estranha e complicada, que se julga melhor, mas na realidade não percebe, não vê, não sente.
Mas, principalmente, porque esbarramos uns nos outros em tempos diferentes, e talvez por isso nunca nos cheguemos a encontrar.
Por hoje... desisto...
Quinta-feira, 5 de Outubro de 2006
I'm a living sunset
Lightning in my bones
Push me to the edge
But my will is stone
Cause i believe in a better way
Fools will be fools
And wise will be wise
But i will look this world
Straight in the eyes
I believe in a better way
I believe in a better way
What good is a man
Who won't take a stand
What good is a cynic
With no better plan
I believe in a better way
I believe in a better way
Reality is sharp
It cuts at me like a knife
Everyone i know
Is in the fight of their life
I believe in a better way
Take your face out of your hands
And clear your eyes
You have a right to your dreams
And don't be denied
I believe in a better way
I believe in a better way
I believe in a better way
Segunda-feira, 2 de Outubro de 2006
Irritam-me as pessoas dissimuladamente inseguras,
entenda-se estas como aquelas, que por não se sentirem confortáveis com o que o que sentem por si, com o que os outros sentem por elas, fazem por aí uma algazarra silenciosa de me dar a volta ao estômago.
Não suporto a fraqueza hipocritamente cruel, ou melhor magoa-me,
também tenho as minhas inseguranças, pois claro, sou humana, mas não ando para aí a atropelar ninguém à conta disso, e a verdade é que agora passou-me um veículo por cima, não diria um camião, mas assim um carrito modesto.
Enfim...
soubessem as pessoas colocarem-se no exacto local em que devem estar, ou seja, no presente e não num passado que não é delas, e claro está, vice-versa... talvez fossem mais felizes e não chateavam ninguém.
Quarta-feira, 27 de Setembro de 2006

quais marionetas, num teatrinho inconsequente,
puxei-te os cordelinhos e dançaste comigo...
Sábado, 23 de Setembro de 2006
"...não, hoje não foi um dia mau, foi só um dia em que me fugiu a coragem, amanhã vestirei de novo a armadura da hipocrisia..."
...e seguiu-se o silêncio,
mas desta vez o silêncio não gritava!
assim como no amor, a amizade não encolhe,
não se adia, não se pede, não se esconde, não se mente, não se cala, não se perde...
ou é ou não é. SIMPLES, não?
Domingo, 30 de Julho de 2006
"...deixa lá isso não interessa, aquilo que realmente importa é 'isto'...",
e pega no filho ao colo...
E calou-me...
Domingo, 23 de Julho de 2006
de ti
falar de ti
deveria falar de ti
deveria apetecer-me falar de ti
porque deveria apetecer-me falar de ti
não...
decepcionaste-me, entristeceste-me, encheste-me, esvaziaste-me, irritaste-me, cansaste-me, aborreceste-me, fartaste-me...
e na falta de palavras: encolho os ombros, levanto o sobrolho, franzo a testa, faço um sorriso mais ao menos a direito e... óh!!
Que importância tem?
Porque não?
Porque vendo bem, olhando para trás de mim, para antes de nós,
DE TI?
Domingo, 25 de Junho de 2006
com tanta mudança em tão pouco tempo,
com mãos tão desajeitadas a carregarem-me,
não sei como ainda não parti,
...se calhar o conteúdo não bate com a caixa.
Domingo, 7 de Maio de 2006
porque me prendes?
porque em tantos anos, parte de mim és tu
e o dia em que te deixar partir, parte de mim partirá ...
e tenho medo...
levarás o melhor de mim.
Terça-feira, 2 de Maio de 2006
as pessoas que amei tatuam-se em mim, marcas mais ou menos felizes, cicatrizes de feridas que só doem quando se toca, pormenores estampados na minha memória
...de ti lembro a forma como me punhas o braço por cima dos ombros, me apertavas contra ti e rias, de puro prazer de seres dono daquilo que mais querias
...de ti lembro a forma como olhavas fixamente nos meus olhos e sorrias trocistamente, por saberes como me irritava a forma como me lias a alma
gostava de ser diferente, de não me deixar prender tanto por coisas que já não são minhas, mas sou assim.... e tornei-me assim... protejo-me, escondo-me, amedronto-me, fujo...
talvez por isso desenhei em mim um caminho, para a frente, para trás, num lugar escondido, que só se vê quando o vento me bate na cara...
Domingo, 2 de Abril de 2006
para que me lembre no futuro,
para quem por aqui tropeçar.
adverte-se:
esta que aqui está não sou eu
...
não que seja importante,
de facto não me conheço, não me reconheces
...
é, talvez só: um bocado desvairado, deturpado, disfarçado, descentrado, definitivamente egocêntrico de mim
Quinta-feira, 9 de Março de 2006
agora:
fragmento de tempo finito,
momento constante, instante real incessante,
aquilo que é, aquilo que fui, aquilo que serei,
presente, presença impresente, bocado ausente consciente,
fragmento de espaço mutável
...eu